Versinho tosco na parede

Olho e acredito que pela última vez, o versinho tosco na parede do que foi teu quarto. Não é meu nem teu, o tosco. Sim, é teu, tu o ganhaste. E o emolduraste como relíquia digna da eternidade. Já não o contemplas? Cá está, como sagrado, neste quarto, palco de um amor perdido.

O que sinto é pequeno com relação a esta parede e o que passou. Pois não posso ver nem ser o que foi. Tive meus outros e com outros momentos. Igualmente belos? Receio que não. Fugi demais de mim e dos homens. Fuga estranha que me lançava aos lobos.

O que diz a parede que vou apagar?

"As línguas são imperfeitas

pra que os poemas existam

e eu pergunte donde vêm

os insetos alados.

Seu braço roçando o meu...

A.P

Há + coisas que a Conde de Porto Alegre".

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Bem é isso. Vou apagar da parede. Riscando, pintando, colando algo, não sei. Tu me autorizaste. Sei que não se apaga assim do coração, da memória. Mas eu não quero mais olhar isso. Excitante paixão que hoje jaz. Não quero ver todo dia este versinho tosco e carregado. Foi meu quarto quando aqui cheguei. Hoje é um quarto para ler e meditar e tudo menos meu quarto. Quero tudo novo, mesmo que novo não seja. Mas as coisas todas diferentes, dispostas conforme a vontade de Deus. Qual é a Sua vontade? A minha depende da Sua. A nossa depende da Sua. Todos dependemos e assim tem que ser. Há quem dependa e não quer depender, prefere ignorar que depende e acreditar que se basta. Não vou discorrer sobre essas pessoas, pois ainda não me conheço por completo. Deus me conhece e é em Suas mãos que me coloco. Quer saber? Atenho-me à janela, posso olhar além; a janela, tão próxima ao verso tosco e tão indiferente a ele. É pra janela, pela janela que preciso ver.

No mais, Feliz 2010 para todos, na paz de Cristo que excede todo entendimento. Assim seja.